População vai ao cemitério rezar pelos finados
antes de ir à festa na praça.
antes de ir à festa na praça.
(Foto: Eduardo Queiroz / Agência Diário)
A professora garante que não tem medo de "magoar" os mortos e que gostaria de ter ido ao terço, mas os preparativos para a festa à noite, "não deixaram". Na ocasião da festa, ela explicou que encontra todos os amigos da cidade e os de fora também."O pessoal vem visitar os parentes já mortos e aproveita para encontrar os vivos", explicou.
O estudante Thelmon Carvalho, 21 anos, foi ao show das bandas de forró à noite, mas disse não se arriscar dar uma passada pelo cemitério. Ele garantiu que não tem medo. "Há uns dois anos passei de carro e vi um negócio branco, um vulto. Mas nunca ouvi falar nessas coisas", lembrou. O pai dele, professor José Wilame, 50 anos, disse ser uma questão religiosa, um ritual. "Em cada país existe a sua religião. Nós somsos católicos. Mas, para isso aí eu sou meio descrente. Não acredito em ver almas", afirmou.
Wilame lembrou que tocava guitarra em uma banda de forró na festa das almas, década de 1980. "Eu tocava um pouquinho porque meia-noite tinha a música lenta", recordou. O professor, que permaneceu na varanda de um amigo durante a festa, disse ser polêmica a realização da festa, mas que a população em geral gosta."A véspera de finados aqui é comemorada com festa. O pessoal aceita bem, mas tem gente que questiona. Mas toda festa religiosa existe o profano e o religioso", defendeu. A festa, segundo a organização, faz parte do calendário cultural da cidade.
Terço
das almas é iniciado na praça da matriz e missa é celebrada no pátio do
cemitério. (Foto: Eduardo Queiroz / Agência Diário)
Cemitério sem muro
O prefeito de Ocara, Leonildo Peixoto (PSD) explicou como começou a festa das almas, na década de 1920. De acordo com ele, o cemitério da cidade não era cercado e, segundo o prefeito, há uma tradição católica apostólica romana de que cemitério tem de ter muro. "Uma liderança religiosa da época, o Pai Dodó, notou que na véspera de finados havia uma aglomeração de gente, a pé ou a cavalo, com velas. E ele teve a ideia de fazer um leilão para arrecadar dinheiro para construir o muro".
O leilão, relatou o Peixoto, acabou virando tradição e se transformando em festa todo dia 1º de novembro, dentro da mística sertaneja e católica. Segundo o prefeito, são esperados todos os anos cerca de 50 mil pessoas para os festejos. Por volta das 18 horas, as pessoas se reunem em frente à igreja matriz para rezar o terço das almas e seguem até o cemitério. "No pátio do cemitério, o padre reza uma missa. E o comércio do lado de fora também fica efervescente", afirmou.
Após a missa, na praça ocorrem as apresentações culturais, inclusive de escolas, feira de artesanato e comidas típicas. "Tem reisado, dança, cordel", disse o prefeito. A partir das 22h, o forró começa e vai até o sol raiar na praça. "Este ano são as bandas Solteirões do Forró, Forró do Bom, Lagosta Bronzeada e Forró do Gordim", explicou Peixoto.
Para o prefeito, que mora há 11 anos no município, a festa das almas celebra a vida e representa um encontro dos moradores de Ocara com os que partiram. E ainda estão vivos. "Não é que se tenha medo da morte. Se comemora por estar vivo", disse.
Atualmente, o cemitério da cidade, além de ter muro, recebe pintura, limpeza e iluminação todos os anos para receber os visitantes. "Tem o lado profano, mas tem o lado sagrado. O cemitério de Ocara hoje (1º) passa a noite lotado. As pessoas frequentam o cemitério à noite, para fazer orações. Foi algo incorporado pela população", garantiu.
Panfleto de divulgação da festa das almas
(Foto: Prefeitura de Ocara/Divulgação)
Custo da festa
A realização da festa, segundo Leonildo Peixoto é da Prefeitura, mas com recursos do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), da Caixa Econômica Federal (CEF), do Governo do Estado e do tesouro municipal. O custo total da festa este ano, explicou o prefeito, foi de R$ 100 mil. Ele explica que, além do policiamento local, há um reforço da Polícia Militar e mais 120 seguranças. Outra medida de segurança, acrescentou, é a proibição de venda de bebidas em garrafas de vidro.
Fonte:G1