A data oficial é em 8 de outubro, mas na cidade, em que mais de 60% dos moradores são nordestinos, a festa é o ano inteiro
Não é difícil andar pelas ruas de Cubatão e escutar o sotaque arrastado, tipicamente nordestino, ou algumas das gírias muito faladas naquela região do país. A cidade também tem as chamadas “casas do norte” espalhadas por vários bairros: são pelo menos 11 estabelecimentos desse tipo, que vendem manteiga de garrafa, rapadura, feijão de corda, chinelos e chapéus de couro e muitos outros artigos típicos. O motivo de toda essa influência no sotaque, culinária é fácil de se entender: segundo a Prefeitura, mais de 60% dos moradores de Cubatão são nordestinos ou filhos e netos deles.
São
histórias de lutas e conquistas de pessoas que deixaram sua terra natal
em busca de uma vida melhor. São migrantes de Pernambuco, Paraíba,
Ceará, Bahia e demais estados do Nordeste. Histórias como a de Seu
Alfredo Vieira dos Santos, de
78 anos. Natural de Lagarto, Sergipe, sua história fora do Nordeste
começou em 1964. “Eu era vaqueiro em minha cidade natal. Vestia gibão e
tudo mais. Em 64 fui para Brasília e lá, me encantei pela música e pelo
Repente”, conta, com saudades.
Em
1966, Alfredo Vieira chegou em Cubatão. “Vim com uma malinha e minha
viola”, comenta. A viagem tinha o objetivo de conseguir um emprego e
trazer a família que havia ficado em Largato, objetivo esse atingido um
ano e meio depois. A história de Seu Alfredo se confunde com as de
milhares de outros sergipanos, baianos, pernambucanos que vieram para
Cubatão em busca de uma vida melhor. Já radicado aqui na cidade, além do
emprego na Prefeitura, continuou com seu “Repente”, tocando e cantando
em rádios por toda a Baixada Santista.
Além
da paixão pela música, este sergipano também faz cordel e poesia com
temas nordestinos. Por conta disso, adotou o pseudônimo de “Agulhão do
Mar” para assinar seus versos, apelido por que é conhecido em toda a
cidade. Seu Agulhão chegou até a organizar encontro de repentistas em
Cubatão no início dos anos 2000. Já escreveu cinco livrinhos de cordel,
sempre abraçando a temática da política e desigualdade social.
Seu
Agulhão do Mar é bastante conhecido no município e será um dos
homenageados no II Festival Cubatão Danado de Bom. Este ano, o evento
vai reconhecer a importância de nordestinos que ajudaram a construir a
história cultural e política da cidade. Além dele, outros quatro nordestinos, igualmente importantes, também serão reconhecidos durante o evento: José
Ronaldo de Andrade, conhecido como “Camarão do Forró”; Albino Barbosa
da Silva, apelidado de “Chapéu de Couro”; Claudelício Mota Cavalcante, o
“Sanfoneiro Lêla” e Manoel Raimundo de Oliveira.
O Festival Danado de Bom tem
justamente o objetivo de valorizar a Cultura Nordestina tão presente na
cidade. O evento acontece de 11 a 15/11, no Kartódromo Municipal, e vai
reunir atrações como Daniela Mercury, Zé Ramalho, Calcinha Preta,
Cavaleiros do Forró e o encontro inusitado de Oswaldinho do Acordeon e
Sinfônica de Cubatão. Isso, sem contar o restaurante com sabores
apimentados, cinema, oficinas de arte, quadrilhas matutas e uma cidade
cenográfica em homenagem ao Chico Anysio. O humorista será a
personalidade nacional nordestina homenageada pelo Festival em 2011.
Para
Seu Agulhão do Mar, a homenagem aos nordestinos que ajudaram a
construir a história de Cubatão é algo muito especial, pois restaura os
laços afetivos dessas pessoas com sua terra natal, ficando raízes ainda
mais largas em Cubatão, cidade escolhida por eles para morar com suas
famílias. “Estou aqui na cidade há 45 anos com minha esposa e meus sete
filhos. Sinto orgulho de viver aqui no meu chão”, afirma Seu Agulhão.
Texto: Morgana Monteiro